Carlos Ziemer e as Águas Marinhas da Rainha da Inglaterra.

As Águas Marinhas que foram oferecidas de presente por Assis Chateaubriand a Rainha Elizabeth da Inglaterra são, com certeza, um dos conjuntos de pedras mais conhecidos do mundo. O colar, primeira peça oferecida como presente, é uma joia histórica.

Mas você sabe qual é a origem desse lote de pedras? De onde elas vieram, quem as encontrou? Quem as lapidou? Quem as comerciou?

Pois se não sabe, agora saberá, aqui, no primeiro post da série “Lapidando histórias”, com depoimento de Carl Hugo Ziemer, 82 anos, lapidário e comerciante de pedras.

Hugo Ziemer examinando lotes de águas marinhas brutas.

Hugo Ziemer examinando lotes de águas marinhas brutas.

”    Essa história começa lá atrás, quando meu pai, Hugo Ziemer morava no Rio de Janeiro e  vinha comprar pedras em Pedra Azul, MG. Naquela época a cidade chamava-se Fortaleza e as melhores águas marinhas do Brasil saiam lá.

Meu pai conheceu o João de Almeida em 1929, em uma dessas viagens e desde então se tornaram muito amigos. Sempre que meu pai ia a Fortaleza ( atual Pedra Azul) ele se hospedava na casa do João de Almeida e trabalhava em sua lavra, nessa data meu pai já comprava as águas marinhas daquela região. Eles passavam a semana na lavra e no fim de semana iam para Pedra Azul e faziam churrasco, ficavam na casa da família.

João de Almeida foi, além de dono de lavra, político, chegando a ser prefeito de Pedra Azul. De família de políticos, recebeu Juscelino Kubitschek várias vezes durante sua campanha a presidência da república, e faziam grandes churrascos, matavam bois e convidavam a parte política toda… e quem fazia esses churrascos era meu pai, Hugo Ziemer.

Num desses churrascos, o Assis Chateaubriand também foi convidado e nessa ocasião João de Almeida o apresentou a meu pai e lhe disse que quando ele precisasse de umas águas marinhas, que procurasse o Hugo Ziemer no Rio de Janeiro, pois era ele quem trabalhava ali na lavra e tinha as melhores águas marinhas do Brasil.

Então, quando o Assis Chateaubriand foi embaixador do Brasil na Inglaterra, ele se lembrou desse dia e pediu ao seu secretário que estava no Brasil para que procurasse por meu pai.

Era quase meia noite quando o telefone tocou. Eu atendi e do outro lado da linha era o secretário do Chateaubriand querendo que eu levasse um lote de águas marinhas naquele momento, no Diário dos Associados, pois ele iria para Londres ainda naquela madrugada. Esse lote foi levado e dado de presente a várias pessoas pelo Chateaubriand e foi um sucesso total.

Quando aconteceu o momento ideal de dar um presente relevante à Rainha Elizabeth, Chateaubriand se lembrou das águas marinhas e do sucesso que cada pedra havia feito e encomendou logo um lote para fazer um colar.  Ele pediu o maior e mais corado lote de águas marinhas de Pedra Azul !

Ele queria inclusive que nós confeccionássemos o colar, porém eu disse que isso não dava pra fazer, pois não tínhamos oficina preparada para algo assim, mas que eu conseguiria as melhores águas marinhas de Pedra Azul. E assim fiz.

Eu comprei as águas marinhas da lavra de João Almeida, e quem fez a lapidação das pedras foi o senhor Franz Flohr, um lapidário que prestava serviço para nós ( e quem me ensinou a lapidar), na Lapidação Franz Flohr ,que na época funcionava na R. Buenos Aires, 84 – 2º andar, no centro do Rio de Janeiro.

Uma das pedras era maior e não fazia par e o Chateaubriand pediu para que fosse relapidada para que ficasse um par perfeito. Ou seja… uma das pedras era ainda maior do que é. Na hora deu uma dó, mas era um pedido muito importante, foi feita a vontade do cliente e a pedra foi relapidada no tamanho desejado.

Entreguei as pedras ao Assis Chateaubriand, que as repassou para uma joalheria que existia na esquina da Rua Gonçalves Dias com  Rua do Ouvidor, que se chamava Krause e foi quem confeccionou o colar.

Krause Joalheria

Por coincidência, quando eu estava na Itália, em 2008, meu filho um dia estava conhecendo algumas joalherias quando numa delas, ao trocar o cartão, foi surpreendido com a pergunta: O que você é de Carlos Ziemer? … e ao ouvir que eu era o pai dele, contou que era filho do Kraus, o homem que havia feito o colar da Rainha. Casualmente estavam ali numa joalheria italiana o filho do homem das pedras e o filho do homem do colar da Rainha Elizabeth … Ele ficou muito feliz em ter notícias minhas e me mandou o telefone do pai…

Fiquei muito feliz ao ver o quanto o mundo é pequeno. Telefonei para o Kraus, conversamos muito, nos emocionamos muito. Foi muito bom ter notícias, saber que ainda está vivo, que continua trabalhando no ramo e tem uma joalheria num shopping em São Clemente. ”

Carl Hugo Ziemer

Carl

Carl Hugo Ziemer, é meu pai e me sinto muito honrada em contar um pedacinho da sua história.

Carlos Ziemer, como é chamado aqui no Brasil é filho de alemães, nasceu em 04 de julho de 1932 em Teófilo Otoni, Minas Gerais, numa casa que existe até hoje, bem de frente para a Praça Tiradentes, local aonde teve seu cordão umbilical enterrado debaixo de uma roseira.

Dizem que quando se enterra o umbigo num lugar, é ali que você vai ficar… Pois se é verdade ou lenda eu não sei, só sei que meu pai teve o mundo inteiro, mas o coração só pertenceu a um lugar : Teófilo Otoni.

Foto: Leonardo Cambuí

 

 

 

 

 

 

7 pensamentos sobre “Carlos Ziemer e as Águas Marinhas da Rainha da Inglaterra.

    • José Luiz, essa reportagem que me mandou o link é apenas baseada em suposições, pois explica-se que supõe que seja de Itarana pois as maiores pedras vieram de lá. O meu post eu falo sobre fatos reais, pois os envolvidos ainda estão vivos: o pedrista que comprou a pedra, o ourives que fabricou o colar, a família de ambos e a família do dono da lavra. Existe em nossa cidade uma vasta documentação das pedras que saíam dessas lavras, principalmente de Pedra Azul-MG.
      Nossa história não é baseada em suposições, a história da nossa região é baseada em fatos. Te convido a conhecer nossa cidade e a cidade de Pedra Azul, quando vier poderá se informar pessoalmente sobre todas as incríveis pedras dessa região.
      Grande abraço!

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  1. Sou morador dessa região e me tornei garimpeiro por causa do texto acima. Hoje tenho várias águas marinhas dessa região. As pedras são realmente lindas e de um azul fantástico.

    Ass.: Aisten Almeida

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